segunda-feira, 28 de abril de 2014

Reproduzir para não pensar: entre bananas, macacos e papagaios

"Auto-retrato com macaco e papagaio" (1942) - Frida Kahlo

Aos "patriotas" de plantão, um aviso: vocês não gostarão do que vão ler... Este não é um texto muito "pra frente, Brasil", aliás, não é nem um pouco! Às vésperas do maior evento esportivo do mundo em terras tupiniquins, os ufanismos vão de vento em popa, e os discursos dissonantes parecem amargos e intransigentes diante da "magnitude" de tudo que o país vivenciará nos 30 dias de catarse coletiva entre junho e julho próximos.
E à medida que a Copa vai chegando, nossos absurdos vão se multiplicando na velocidade fútil das redes sociais e da mídia medíocre que exulta em se esfregar no chão em troca de audiência ou de um minuto de atenção. Qualquer fato se alastra como notícia ruim, mas nossa atenção, alegria ou consternação não dura o suficiente para que reflitamos sobre o que acabamos de ler. Não importa a catástrofe natural ou o novo escândalo de corrupção: eles são gritantes demais para nos fazerem refletir. E para quê refletir? Em vez disso, sigo o pensamento daquele pretenso atleta-artista-personalidade instantânea via rede social ou palanqueado no noticiário que teima em não terminar, antes da tão esperada telenovela.
Falando em futebol, celebridades e coisas afins, mais um fato que não deve durar o suficiente para que este texto possa se contextualizar na próxima semana: a "campanha" do "Somos todos macacos", criada, rotulada, empurrada, reproduzida ou sei lá o quê a partir de uma atitude (essa sim criativa, bacana, simbólica) do jogador de futebol Daniel Alves, que comeu uma banana jogada em campo como uma afronta racista. Ao comê-la, Daniel deu uma resposta simbólica, que não foi reproduzida, ao contrário do que muitos "pensam", pela ideia de se criar uma "campanha" em que todos se intitulam "macacos" para combater o racismo que se constrói atribuindo esse termo de forma pejorativa àqueles que se pretende agredir. Eis a grande contradição...
Não vou muito além na análise desse fato, até por que não sei se essa discussão sobrevive à próxima semana, portanto, cabe aqui outra questão: entre bananas e macacos, parecemos mesmo é um bando de papagaios, que reproduzem o que ouvem sem discernir o que estão reproduzindo. Preferimos reproduzir teorias sem ao menos refletir sobre elas, que criar nossas próprias concepções sobre nós mesmos, a vida e o mundo. Este país, em meio ao ufanismo supremo promovido pela Copa e suas bijuterias analgésicas e efêmeras, está à deriva, e não é apenas por corrente política de direita, esquerda ou ambidestra, é principalmente por conta de sua população, da sua forma de agir e (não) pensar.
A Copa vai passar, assim como os incríveis fatos sem importância da semana. O que fica é a sensação de que todo o avanço tecnológico, social e econômico propalado pela grande mídia e pelos motores políticos interessados não tem nos trazido qualquer possibilidade de crescermos como nação, como um povo educado, respeitoso e consciente. E perderemos mais uma grande chance de refletir sobre tudo isso, quando "os olhos do mundo estiverem voltados para o Brasil". Estaremos ocupados demais para isso!

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