domingo, 23 de agosto de 2009

A guerra do mais do mesmo




Estourou a guerra. Nas últimas semanas, a TV brasileira vem fervilhando com a troca de acusações entre Rede Globo e Rede Record (leia-se Igreja Universal do Reino de Deus). Trata-se de um embate entre grandes corporações, que pelo visto, têm muito do que não se orgulhar.
Não é de hoje que a TV Globo vem se incomodando com o ganho de audiência da Record, pois se acostumou com a conformada posição de 2º lugar do SBT, que pouco ameaçava a programação da "vênus platinada". Não é de estranhar, portanto, que não perdesse a oportunidade de dar (grande) destaque às investigações que colocam a Igreja Universal como "patrocinadora indireta" da Rede Record, usando um recurso oriundo das doações de fieis.
Para entender melhor o caso, é melhor tomar por base uma matéria da Folha de São Paulo, publicada em 11.08.2009:
"A Justiça recebeu ontem denúncia do Ministério Público de São Paulo e abriu ação criminal contra Edir Macedo e outros nove integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus sob a acusação de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A denúncia, aceita pelo juiz Glaucio Roberto Brittes, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, resulta da mais ampla apuração sobre a movimentação financeira da igreja já feita em seus 32 anos de existência. [...] Segundo dados da Receita Federal, a Universal arrecada cerca de R$ 1,4 bilhão por ano em dízimos. As receitas da igreja superam as de companhias listadas em Bolsa -e que pagam impostos-, como a construtora MRV (R$ 1,1 bilhão), a Inepar (R$ 1,02 bilhão) e a Saraiva (R$ 1,09 bilhão).
Somando-se as transferências atípicas e os depósitos bancários em espécie feitos por pessoas ligadas à Universal, o volume financeiro da igreja no período de março de 2001 a março de 2008 foi de cerca de R$ 8 bilhões, segundo informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda que combate a lavagem de dinheiro.
A movimentação suspeita da Universal somou R$ 4 bilhões de 2003 a 2008. [...] O xis do problema, para os promotores, não reside na quantia de dinheiro arrecadado, mas no destino e no uso que lhe foi dado pelos líderes da igreja no período investigado. Um grande volume de recursos teria saído do país por meio de empresas e contas de fachada, abertas por membros da igreja, e foi depois repatriado também por empresas de fachada, para contas de pessoas físicas ligadas à Universal.
Os recursos teriam servido para comprar emissoras de TV e rádio, financeiras, agência de turismo e jatinhos. [...] Segundo o Ministério Público de São Paulo, os recursos da Universal eram transportados em jatinhos e foram depositados em contas definidas pelos bispos, principalmente no Banco do Brasil e no Banco Rural. Duas empresas que seriam de fachada recebiam o grosso dos depósitos, segundo a denúncia -a Unimetro Empreendimentos S/A e a Cremo Empreendimentos S/A. [...] Entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, a Unimetro recebeu em duas contas, no Banco do Brasil e no Banco Rural, um total de R$ 19,2 milhões. Em sua grande maioria, a movimentação foi proveniente de transferências eletrônicas.
A empresa Cremo, no mesmo período, totalizou R$ 52,1 milhões em créditos em três contas, no Banco do Brasil, Banco Rural e Banco Safra. As duas empresas remetiam os recursos, por sua vez, às companhias Investholding Limited e Cableinvest Limited, localizadas em paraísos fiscais (ilhas Cayman e ilhas do Canal, respectivamente). O dinheiro retornava ao país em forma de contratos de empréstimos a laranjas, usados para justificar a aquisição de empresas e imóveis ligados à Universal, segundo a denúncia.
Descreve o texto da promotoria: "Podemos citar como exemplo a compra da TV Record do Rio de Janeiro. A empresa foi adquirida em nome de seis membros da Igreja Universal do Reino de Deus, que justificaram a origem da transação (avaliada em US$ 20 milhões) através de empréstimos junto às empresas Investholding e Cableinvest". Outro exemplo usado na denúncia é o da TV Itajaí, também comprada com recursos oriundos da Cremo".

Trocando em miúdos, segundo a acusação, boa parte do dinheiro doado por fieis à Universal tem sido utilizado para interesses particulares, o que ainda se configura como um desvio à lei, conforme a mesma reportagem:
"Empresas privadas pagam impostos porque o propósito de suas existências é o lucro. Igrejas, pela lei brasileira, não pagam tributos porque suas receitas, em tese, revertem para o exercício da fé religiosa, protegida pela Constituição. Quando o dinheiro oriundo da fé é desviado para comprar e/ou viabilizar empresas tradicionais, que têm o lucro como finalidade, a imunidade tributária está sendo burlada".
Diante de tal cenário, não seria estranho a Globo divulgar tal notícia com um considerável destaque. Aliás, seu departamento jornalístico apenas estaria exercendo o seu dever.
A TV Record foi o caminho escolhido pela Igreja Universal para se defender, mas não como um meio de divulgação, mas como a própria "vítima" do ataque. A rede de televisão foi colocada pelo seu próprio departamento de jornalismo como sendo o verdadeiro alvo da Globo, por medo de sua audiência ascendente. Trata-se de um expediente perspicaz, é fato. Porém, um expediente covarde, fincado na alienação ou ignorância dos seus telespectadores. Se a IURD não é culpada, por que não se defender, ao invés de eleger um "bode expiatório"?
E, desviando o foco da investigação, a TV Record lançou luz sobre uma outra polêmica inesgotável: a origem e atuação da Rede Globo no Brasil. Lembrou aos brasileiros da origem obscura da Globo, pelas mãos dos políticos da Ditadura Militar, que foi apoiada amplamente pelo criador da Rede, Roberto Marinho. Lembrou ainda das manipulações políticas que a TV de Marinho protagonizou, como o caso das Diretas Já, a eleição de Brizola para governador do Rio de Janeiro e a manipulação covarde do debate entre Lula e Collor no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, favorecendo o "caçador de marajás", que seria cassado pouco depois por corrupção. E, em verdade, nunca devemos esquecer tais fatos!
A Record também usou, em suas matérias anti-Globo, trechos do documentário "Muito Além do Cidadão Kane", produzido em 1994 por uma rede de TV inglesa e proibido de ser exibido no Brasil por ação judicial. Eis que agora a Record comprou os direitos do documentário, que está disponível para quem quiser ver num site da IURD - Arca Universal (e por que não no site da Record?).
Diante dos fatos, resta concluir que estamos diante de "uma briga entre um roto e um esfarrapado", ou de "macacos que não olham para o próprio rabo", como diz bem a sabedoria popular. Essa "guerra" tem, no entanto, um lado muito bom: mostrar a quem quiser o que verdadeiramente são essas instituições (Globo e IURD) e o que são capazes de fazer para alcançarem seus interesses.


Para se informar melhor sobre a "guerra", acessem os links abaixo:

http://www.aatr.org.br/Artigos/Universal_condenada.htm
http://www.youtube.com/watch?v=8INzVqx_t4M
http://www.youtube.com/watch?v=oESM5iLY2sY
http://criticanarede.com/kane.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u612350.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u613406.shtml

Atenção: Se os links não funcionarem, copie-os para o seu navegador! Boa leitura!

3 comentários:

  1. O diploma assinado por Jesus Cristo foi ótimo! Seria cômico se não fosse trágico. É, meu povo brasileiro, quanta ignorância!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A cada dia que se passa percebemos que a poeira vai abaixando, e as TVs estão mais calmas, porem, é bom quando uma pessoa traz a tona reflexões sobre esse assunto pois trata-se de uma pessoa imparcial. Pois quando assitimos a Globo temos uma visão, quando assistimos a Record temos outra, e quando lemos, sabemos que nenhuma das duas Redes são santas!
    Parabens André, não sei se for por meu pedido, mas parabens pelo texto!

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