domingo, 19 de julho de 2009

Em Bom Português


Televersão

Estranhou o título? Não, não está escrito errado. A televisão se tornou o mais importante meio de comunicação do século XX e revolucionou o mundo da informação. O problema é que, por ser tão abrangente, a TV pouco a pouco foi tomando um espaço significativo nos lares de milhões de brasileiros. Comenta-se que há mais televisores do que geladeiras nos lares brasileiros, o que não é difícil de se acreditar se observarmos a quantidades de antenas nos telhados das casas.

Enfim, esse espaço que a TV abocanhou fez com que, progressivamente, o livro fosse perdendo a preferência popular como forma de entretenimento e o jornal escrito perdesse, em parte, sua relevância como fonte de informação. Ler um livro? Não, é melhor ver o filme. Dá menos trabalho. Dessa forma, o cidadão vai perdendo seu poder de análise, pois se deixa levar pela velocidade das imagens, não imagina mais os cenários e personagens da ficção: a TV faz tudo isso por ele.

O mesmo acontece em relação ao jornal escrito. Grande parte da população prefere ver o telejornal, cheio de imagens, mais dinâmico, em tempo real. E aí está o engano: na TV, as notícias aparecem de forma muito rápida, e não há tempo para analisá-las, afinal logo vem outra e o cidadão apenas internaliza a notícia anterior, passando a “consumir” a seguinte, seguindo o mesmo processo de alienação.

Por isso a “televersão”. Ninguém pode aceitar tudo o que TV despeja todos os dias através da sua “tela mágica”. Não há garantias de que muito do que é transmitido não seja apenas um conjunto de versões, moldadas ao gosto das emissoras. É por essa realidade que a televisão pode ser considerada o “cavalo de tróia da modernidade”, incumbida de invadir as casas e levar para dentro delas informações nem sempre confiáveis. Dessa forma, seria a TV um verdadeiro “presente de grego”!

A dica gramatical de hoje refere-se ao uso de crase em certas expressões bem comuns do dia-a-dia. Se considerarmos que não se usa crase diante de palavras masculinas, expressões como “andar a pé” ou “andar a cavalo” jamais terão crase. O mesmo pode se dizer de “comida a quilo” ou “vendas a prazo”. No caso da expressão “entrega a domicílio”, o equívoco é duplo. Primeiro, essa expressão não existe, o correto é “entrega em domicílio”, já que a encomenda será entregue a uma pessoa, não a uma residência. Segundo, mesmo se existisse, não haveria crase, pois “domicílio” é uma palavra masculina.

Não esqueça: é preciso filtrar as informações que nos são passadas diariamente pela TV. Duvide, questione, pesquise, mas não aceite as “televersões” como verdades sem antes analisá-las. Além disso, a maior arma contra a alienação é a leitura, pratique-a! Um abraço, até a próxima.

3 comentários:

  1. De fato a televisão é um grande agente alienador na sociedade atual...mas indo mais alem,não é só a televisão,o problema é mais complexo,temos a grande web,onde a alienação está bastante presente,no mercado do sexo e das inutilidades virtuais que nos circundam, onde para muitos se resumem em orkut e msn..Otimo texto Dé..sucesso!

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  2. Não apenas a televisão, mas os meios de comunicação em si têm tratado a informação de forma cada vez mais compacta. Como diz o texto, o poder (perigo) da televisão se dá por sua maior penetração na vida dos brasileiros.
    Os impressos saem perdendo sobretudo pela falta da cultura de leitura em nosso país. Mas eles também podem tornar-se agentes alienadores, visto que podem ser bastante tendenciosos. Aliás, é importante ter atenção sempre: nenhuma informação é totalmente equidistante. A imparcialidade é um mito.
    A respeito da mídia eletrônica, vivemos submersos em releases - Ctrl+C e Ctrl+V. Pronto, qualquer página que abrimos nos deparamos com o mesmo texto. A mesma mediocridade.
    Aproveito, pois, para parabenizar o Direto na Memória por ser um exemplo destoante dessa realidade. Textos próprios, informações contextualizadas, reflexões propostas, valorização do regional. E, claro, opiniões destemidas. Um espaço necessário na "Terra de Gigantes".

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  3. Hoje sabemos de fato o verdadeiro poder alienador da Televisão, cada vez mais indivíduos da sociedade que não possuem o chamado senso crítico, são transformados e moldados pelos modismos e comportamentos passados pela mídia.
    Ótimo texto, professor Galvão, recomendo esse blog a todos aqueles dispostos a analisar diversos temas cotidianos.

    Aproveito a oportunidade para propor ao nosso amigo Galvão, á discutir um pouco nos seus textos a atual situação do Haiti...
    Desde já agradeço
    Um forte abraço!

    Murilo Campos

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