Mind Devour - Sebastian Eriksson |
“Ninguém mais quer ser como
é: todos querem ser como os outros são”.
Cecília Meireles
Aparência.
Essência. Nessa ordem. Pelo menos é o que dita a sociedade de consumo na qual
vivemos. Consumo de tudo: produtos, serviços, pensamentos, pessoas... As
pessoas consomem até a própria imagem, num canibalismo sádico e surreal.
Quantas
(ou quantos) você “pegou” na última festa? De quais você lembra o nome? Quantas
peças de roupa inúteis você tem em seu guarda-roupa? E sapatos? Certamente
essas perguntas não têm resposta, pelo menos para muitas pessoas. O importante
é consumir, não necessariamente para si, mas em muitas vezes para outros, para
se manter visto, percebido. Não importa que para isso o sujeito se venda, se
destitua de suas características, se troque por uma modazinha sem-vergonha de
fim de semana. O que vale é aparecer.
As
pessoas deixaram de se vestir conforme seu próprio gosto. Estão sempre
imaginando o que será dito pelos outros, como elas serão vistas pelos demais.
Essa falta de afirmação, de identidade é a peça-chave da engrenagem
capitalista: quanto mais inseguro, mais consome para tentar alcançar um patamar
de aceitação alheia.
Até
o gosto por música e livros é afetado por tudo isso. As músicas duram o
suficiente para fazer sucesso por pouco mais de duas semanas. O cantor famoso
deste mês vira artista decadente no programa sadomasoquista de domingo à tarde
no mês seguinte. Tudo é muito rápido, não dá tempo de pensar, assim como nos
telejornais, que apresentam os falsos sorrisos dos apresentadores como anestesia
entre um absurdo e outro da política nacional. A memória coletiva é uma piada
de mau gosto. A cultura popular está virando um celeiro de intergalácticas
mediocridades.
Assim,
o cidadão é conduzido ao desmembramento de si mesmo. Não interessa ser como
realmente é. Interessa ser como os outros querem que seja. Medíocre, fugaz,
alienado, fútil, desumano... não importa. Se é preciso ser assim para ser
aceito, paga-se o preço com absoluto desprendimento e sem qualquer remorso.
E
não adianta colocar a culpa de tudo isso exclusivamente nos jovens. Tem muita
gente “experiente” se aproveitando de tudo isso com um sarcasmo fenomenal.
Então, o que resta? Atribuir culpas e se eximir delas? Não mesmo. É preciso ter
coragem de ser diferente, ou melhor, ter coragem (ora vejam!) de ser autêntico,
o verdadeiro espelho de si mesmo. Mas parece que isso hoje em dia “dói” mais do
que ler um bom livro!
*Esta é uma republicação. Não faz tanto tempo assim que publiquei este texto, mas infelizmente continua atual, e como muitos ainda não o tinham visto, deixo-o aqui para quem quiser refletir sobre ele.